“Você é a princesa e eu sou o seu servo...”
Houve um tempo em que a vida era mais simples. Quando dois irmãos eram apenas irmãos, se divertindo juntos nos jardins de um grande castelo. O pequeno casal era filho da realeza. Seus nomes eram Kagamine Len e Kagamine Rin.
Rin: Olha, Len, eu fiz uma coroa de folhas secas.
Len: Puxa, que bonito, Rin.
Rin: [coloca a “coroa” na cabeça dele] Eu agora o corôo rei dessa terra.
Enquanto as duas crianças riam felizes, dois adultos se aproximavam.
Rin: oi, papai. Oi, titio.
???: Rin, Len, venham aqui.
Os dois pequenos gêmeos se sentaram na frente do pai, que se ajoelhou e começou a falar:
???: Vocês já sabem que sempre que o atual rei dessa terra tem dois filhos, um se torna rei ou rainha, e o outro se torna o servo particular do escolhido, certo?
Len: Sim, papai.
Rin: A mamãe já nos explicou isso.
???: Certo. Bem, eu vim dizer que o conselho decidiu que o próximo a reinar será a Rin.
Rin: E-Eu?
???: Sim, Rin. De acordo com os anciões do conselho, você é mais madura e decidia que o Len, por isso, venha comigo.
Rin: E-E o Len?
???: Ele vai com o seu tio.
Dito isso, cada um dos adultos pegou uma das crianças pela mão e as levou em direções opostas.
Rin: Len!
Len: Rin!
Rin: Acorde, servo Len.
Len, então, recobrou a consciência. Ele acabou caindo no sono enquanto costurava um dos vestidos de festas da rainha.
Rin: Você tem dormido muito ultimamente.
Len: Desculpe-me, minha rainha. Isso não vai se repetir.
Rin: Com o que você estava sonhando?
Len: [volta a costurar] Não era nada importante.
Rin: Vamos, fale. Ultimamente eu só venho tendo pesadelos. Vai ser bom ouvir os sonhos de outra pessoa.
Len: Eu estava sonhando com o último dia que realmente agíamos como irmãos. Sabe, antes do papai e do titio nos levarem por caminhos separados.
Rin: Ah, sim. Aquele dia. Eu sempre pensei que você seria coroado por ser menino e por ser o mais velho.
Len: Somos gêmeos. Não existe exatamente um “mais velho”.
Rin: Sabe, fiquei com vontade de comer laranjas. Você poderia ir ao vilarejo vizinho comprar algumas? As do mercado desse vilarejo são azedas.
Len: Claro, minha rainha. Assim que eu concluir esse vestido.
Rin: Mas eu quero agora!
Len: [suspira] Já estou indo, minha rainha.
“Quem foi apontado como o mais maduro mesmo?” Len pensou enquanto dirigia-se ao estábulo.
Ele, então, subiu no lombo de seu cavalo de pêlos negros e rumou para a cidade vizinha. Pouco tempo de viagem e ele já estava lá.
Ele caminhou até uma pequena feira próxima do centro da cidade e lá, pegou meia dúzia de laranjas maduras em um saco de pano e entregou algumas moedas para o feirante. Ao voltar para o lugar onde ele havia amarrado seu cavalo, ele bateu de frente com alguém que corria então os dois caíram.
Len levantou-se rapidamente então, preocupado, disse:
Len: Desculpe-me! Você está bem?
Sua mente, então, ficou em branco. Ele não conseguia pensar m nada além do quanto aquela garota de longos cabelos verdes era bonita. Seu nome? Hatsune Miku.
Miku: Sim, eu estou bem. Mas sou eu quem deveria se desculpar, eu não olhei por onde andava.
O coração de Len se aqueceu com a linda voz daquela dama, ao contrário da voz de sua irmã, que era fria e vazia.
Ele sentiu por aquela garota um amor que ele nunca sentiu antes, um amor além do amor fraternal que ele sentia por sua irmã. Algo que as pessoas chamavam de “amor à primeira vista”.
Len ajudou-a a se levantar, então ela disse:
Miku: Desculpe-me de novo. Agora tenho que ir. [corre]
Pela primeira vez na vida, ele havia se apaixonado, porém ele nem sabia o nome da moça. Ele, então, subiu no seu cavalo e rumou de volta para o castelo, ainda pensando na garota dos longos e belos cabelos verdes. Ele dirigiu-se então para os aposentos da rainha.
Len: Eu trouxe suas laranjas, minha rainha.
Rin: Silêncio. O príncipe Shion Kaito está vindo.
O príncipe de cabelos azuis entrou na sala do trono, então Len postou-se ao lado da rainha. Ela e o príncipe falaram sobre algo, mas Len não prestou atenção. Só conseguia pensar na dama de longos cabelos verdes. Logo o príncipe Kaito se retirou, então a rainha Rin disse, retirando Len do seu mundo de pensamentos:
Rin: Servo Len.
Len: O que desejas, minha rainha?
Rin: Siga o príncipe. Se ele se apaixonar por alguma jovem que não seja eu, avise-me imediatamente.
Len: Como desejar, minha rainha. [curva-se e sai logo em seguida]
Discretamente, Len seguiu o príncipe Kaito até a saída do castelo. Continuou seguindo-o até a saída da cidade. Enquanto o príncipe caminhava pela estrada que levava à cidade da qual Len havia retornado não muito tempo atrás, o jovem servo seguia-o oculto entre as árvores que contornavam a estrada.
Após poucas horas de caminhada, eles chegaram à cidade. O príncipe apenas ficou caminhando pela cidade, enquanto Len o seguia. Ele, então, ouviu uma voz conhecida. Len olhou para o lado e viu sua amada de cabelos verdes acompanhada por outra dama. Esta, por sua vez, também possuía cabelos longos, porém brancos.
Para a infelicidade de Len, o príncipe também a notou. Ele caminhou até a jovem, então segurou a mão dela, ajoelhou-se e disse:
Kaito: Minha cara dama, sua beleza cativou o meu coração. O que acha de vir comigo para o meu reino?
A princípio, ela ficou confusa, porém ela logo notou que o seu admirador era o príncipe Kaito. Ela sorriu, então disse:
???: Vou pensar em uma resposta.
Kaito: [beija a mão dela] Estarei aguardando a resposta. Se você for me encontrar às oito horas da noite na praça central, vou considerar que a resposta foi “sim”. Mas se a sua amiga aparecer no seu lugar, vou considerar que a resposta foi “não”.
Após dizer isso, o príncipe Kaito levantou-se, virou-se e foi embora. Len não mais o seguiu porque já havia concluído sua tarefa: encontrar uma dama amada pelo príncipe. Mas, infelizmente, ela também era a amada do Len. Ele também sentiu, pela primeira vez na vida, o ciúme. Ele então se virou e correu na direção da estrada de onde ambos vieram.
O tempo passou. Já eram quase oito horas da noite. A dama de cabelos verdes preparava-se para ir ao encontro do príncipe Kaito. Foi quando a porta da frente se abriu. Lá estava parado Len, como se esperasse ser convidado para entrar.
???: [sorri] Olá. Meu nome é Hatsune Miku. O que você deseja?
Len: Meu nome é Kagamine Len. Eu gostaria de falar com você por alguns instantes.
Miku: Sobre o que?
Len: O príncipe Kaito.
Miku: Ah, então você é o mensageiro dele?
Len: Mais ou menos isso...
Miku: Por favor, entre.
Len: [entra] Obrigado.
Miku: Gostaria de beber algo?
Len: Não, obrigado.
Miku: Espere, eu me lembro de você. É o garoto de hoje cedo.
Len: Sim, sou eu. Eu queria te dizer que desde nosso “encontro ao acaso” de hoje cedo eu não consigo parar de pensar em você.
Miku: Eu sinto muito, mas eu já recebi uma proposta do príncipe Kaito.
Len: Então você é uma materialista, é isso?
Miku: Não, é que se eu recusar, ele ficaria chateado. [segue para a porta]
Len: [segura o pulso dela] Você não poderia reconsiderar?
Miku: [se aproxima e beija a bochecha dele] Me desculpe, mas eu já fiz minha escolha.
O rosto de Len se contorceu em uma expressão de raiva mesclada com dor, então ele tirou o punhal da cintura e gritou:
Len: Se eu não posso tê-la, então ninguém a terá!
Miku: Es-Espere!
Gotas de sangue caíram no chão. Miku ficou de joelhos então caiu no chão. A expressão de ódio do rosto dele se desfez, dando lugar a uma expressão de terror. Len voltou a si e se deu conta do que havia acabado de fazer: ele havia assassinado a única garota que amou.
Suas pernas começaram a tremer e ele caiu de joelhos. Enormes lágrimas verteram de seus olhos azuis. Sua esclera estava totalmente vermelha. Ele então abraçou o corpo dela bem forte. Ele sentiu outra coisa pela primeira vez na vida: arrependimento.
Ele deitou o corpo dela no chão, então beijou sua testa e levantou-se. Ele saiu, fechou a porta e foi embora, rumando novamente para o castelo. Enquanto caminhava, ele ouviu um forte grito feminino. Possivelmente da garota de cabelos brancos ao encontrar o corpo da amiga. Isso só fez com que as lágrimas dele vertessem mais depressa.
Ao chegar ao castelo e transmitir a mensagem à rainha, Len foi para o quarto de criados e deitou-se em sua cama. Nem comer suas amadas bananas o animava. Suas mãos ainda estavam sujas de sangue.
Os dias passavam e Len não se sentia melhor. Ao contrário, só piorava cada vez mais. Ele estava pálido, magro, agia como se fosse um morto-vivo, sem expressar sensações ou emoções. Ele então se apoiou no beiral de uma janela e respirou fundo. Ao abrir os olhos, ficou aterrorizado: uma multidão furiosa rumava para o castelo. Uma multidão tão grande que superava a quantidade de guardas e criados do castelo juntos facilmente.
Um a um, os guardas estavam sendo mortos pela multidão. Ele então percebeu que, na linha de frente, estavam uma garota de armadura vermelha e o próprio príncipe Kaito. Mesmo estando longe, ele percebeu a expressão de fúria no rosto do príncipe e logo descobriu o que ele buscava: vingança. Len correu para avisar a rainha do perigo que ela corria.
Rin: E agora, Len? Se eles entrarem aqui, vão nos matar!
Len: Não, Rin. Eles não querem a mim. Apenas a você.
Rin: Len, você seria capaz de sacrificar sua própria irmã para se salvar?
Len olhou nos olhos da Rin, então colocou as mãos nos ombros dela e disse:
Len: Rin, desde o dia em que você me mandou matar a amada do príncipe, eu não tenho sido o mesmo.
Rin: Por quê?
Len: Eu também a amava.
Rin: M-Mesmo? Me-Me desculpe, Len. Eu não devia ter te obrigado a fazer isso. Deve ter sido muito doloroso.
Len: Foi muito. Embora eu tenha guardado um pouco de rancor de você por causa disso, eu jamais seria capaz de te sacrificar.
Dito isso, ele tirou de dentro do seu casaco um tecido dobrado, então continuou:
Len: Desde aquele dia, eu não me sinto bem. Mas eu não conseguiria viver sem minha amada irmã. [entrega o tecido para ela] Tire suas roupas e vista isso.
Rin desdobrou o tecido, então viu que era um manto e um capuz.
Rin: Len, o que você pretende fazer?
Len: Nós somos gêmeos. Ninguém vai notar a diferença. Eu não sou capaz de sacrificar você, mas sou capaz de me sacrificar por você.
Rin: [lacrimejando] Len, você pretende se entregar no meu lugar?
Len: Depressa, estamos perdendo tempo!
A rainha Rin retirou seu belo vestido e seus sapatos, então vestiu o manto e colocou o capuz.
Len também retirou suas roupas, então vestiu as roupas da irmã e colocou os sapatos dela. Ele pegou uma corda, entregou-a para Rin e disse:
Len: Agora amarre minhas mãos. Vou fazer uma pequena encenação para fazê-los que eu estou do lado deles e, como vão pensar que você sou eu, você ficará isenta de qualquer coisa.
Rin: [abraça ele] Eu te amo, Len. Nunca vou te esquecer.
Len: [retribui o abraço] Eu também te amo, Rin.
Ela, então, amarrou os braços dele e os dois seguiram para o saguão principal.
Len: Agora abra o portão e esconda-se.
Rin, limpando as lágrimas, girou uma manivela, então o grande portão se abriu lentamente. Quando o portão estava totalmente aberto, ela correu e se escondeu.
Len: Len, seu traidor! Você não será perdoado!
Rin apenas ficou observando seu irmão ser levado no lugar dela. As lágrimas começaram a verter novamente.
No dia seguinte, às 3 da tarde, Rin, ainda usando o manto e o capuz, observava Len ser colocado sob a guilhotina, lugar que deveria pertencer a ela. “Eu te amo, Rin.” Len pensou. “Viva por mim.”
A lâmina da guilhotina desceu com força total. Mais uma vez as lágrimas verteram dos olhos dela.
Kaito: A rainha está morta!
A multidão, eufórica, gritou e pulou de felicidade. Finalmente estavam livres do terror.
Somente Rin permaneceu imóvel, segurando um pequeno frasco de vidro, que continha um pedaço de papel dentro.